quinta-feira, 14 de outubro de 2010

INTERVENÇÃO NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE 29/09/2010

Exma. Sra. Presidente da Assembleia Municipal
Exmo. Sr. Presidente da Câmara
Exmos. Srs. Vereadores
Exmos. Srs. Deputados Municipais


Na última Assembleia Municipal o Sr. Presidente da Câmara pediu desculpa aos amigos que o avisaram para não se meter comigo e disse que tinha sido uma das últimas pessoas em Castanheira a acreditar em mim e que julgava que o assunto da Prazilândia já tinha acabado.


Permita-me Sra. Presidente da Assembleia que leia aqui um excerto dum poema de Mário de Andrade,

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
(...)
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
(...)
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, (...)
(...)
(...) quero viver ao lado de gente humana, (...) que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, (...) não foge da sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial !”

E o essencial neste processo da Prazilândia, Sr. Presidente, eram e são os Superiores Interesses da Castanheira e não a promoção de "interesses federados, umbilicais e de passo curto", tal como lhe disse no e.mail que lhe enviei no dia 15 de Março deste ano.

O essencial, por isso, Sr. Presidente, é que AINDA HÁ QUEM DIGA NÃO, quem tenha ética, e quem disse não, fui eu, não o Senhor, os seus amigos ou correligionários !

E a ética, tal como disse Gilles Deleuze,

A ÉTICA É ESTAR À ALTURA DO QUE NOS ACONTECE”.


E depois Sr. Presidente, o essencial é que, apesar de nalguns casos eu ter errado e, não obstante, ter voltado a errar;

apesar “disto e daquilo”, o essencial é que, nunca me locupletei com património, bens ou dinheiros públicos ou privados;

não vivo nem nunca vivi de “expedientes” nem à sombra de Instituições que vivem de “malabarismos” ou subsídios do Estado;

sempre tive o Registo Criminal “limpo”;

nunca estive envolvido, directa ou indirectamente, em falências de empresas, nem em formas ilícitas de ganhar dinheiro;

e, finalmente, e mais importante que tudo isto, prezo-me de saber a quem devo e o quê, e, independentemente das consequências, sempre ter assumido as roturas que a vida me exigiu, não vivendo, por isso, “ESTADOS DE HIPÓCRISIA” nem “VIDAS DE FACHADA”!


Portanto Sr. Presidente, ou o Senhor julga que eu tenho vindo aqui para ter protagonismo ou julga que eu penso que o Interesse Castanheirense se esgotou com a nomeação desta Administração da Prazilândia.

Nem uma coisa nem outra !

Repare-se, o Sr. Presidente diz no seu discurso do 4 de Julho, o seguinte, e passo a citar: “A Castanheira de hoje não pode comparar-se à Castanheira de ontem, temo-lo afirmado, muita coisa mudou”. fim de citação.

Sr. Presidente, a única coisa que mudou na Castanheira do seu tempo, foi aquilo que, por acção e mérito da Castanheira que o Senhor herdou do ex-Presidente Pedro Barjona, resultou nos Investimentos Privados em Hotelaria pelas mãos dos Srs. Joaquim da Conceição, Horácio Costa, Pedro Gama, Miguel Barjona e família Graça Oliva !

E, no entanto, aquilo que lhe competia, que era ter criado uma Estratégia de Desenvolvimento para fazer Validar estes Investimentos e o Futuro da Castanheira, o Senhor não fez !

Alguém acredita que a Castanheira possa sobreviver com 2 ou 3 meses de Verão ?!...

Quanto ao protagonismo, não, não ando à procura de qualquer protagonismo.
O que me preocupa mesmo, e muito, é perceber que os Senhores não têm estado à altura do protagonismo exigido às funções que exercem !


Sra. Presidente da Assembleia,

A propósito do Centenário da República, que daqui a dias se comemora, importa trazer a esta Assembleia algumas palavras de Amadeu Carvalho Homem, Professor Catedrático da Faculdade de Letras de Coimbra e que, pelo reconhecimento do conjunto de estudos inéditos e obras publicadas sobre a história e a evolução da República em Portugal, foi condecorado pelo ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Comenda do Infante D. Henrique.

A República é o serviço da causa pública, Res Pública, servindo a casa comum dos Portugueses da melhor maneira possível. Servindo-a com base em valores verdadeiramente republicanos; o desejo de se cumprir um sufrágio universal o mais escrupulosamente possível, o desejo de ver o país bem gerido e bem administrado, o desejo de uma transparência muito grande em todos os cargos administrativos, o desejo de ver o país a funcionar mais como vivência de formação cívica e como escola de civismo.
(...)
Temos de encorajar muito a sociedade civil, (...) os bons cidadãos a manisfestarem-se. O que importa é que tenhamos a certeza de que estamos a ser bem administrados, que temos gente muito honesta nos diversos escalões da administração e da governação pública, que não há “golpes de baú” que as pessoas gerem de forma muito eficaz e transparente os meios que têm à sua disposição.
(...)
Estou convencido de que continua a haver gente escrupulosa em muitas autarquias, (...) em alguns ministérios, e que existem verdadeiros servidores da causa pública. Por outro lado, (...) em muitos outros aspectos esta República está doente (...) e precisamos de a refundar. Esta refundação tem que ser feita com base na ética, nos princípios, nos valores e, sobretudo, com base em gente que tenha as mãos limpas. Há muita gente dessa no Portugal de agora, temos de lhes dar voz (...) e energia, para que se possa construir um Portugal (...) melhor.
(...)
A República é pôr ao serviço da casa comum dos Portugueses o talento, a criatividade e a boa intenção dos Portugueses”.


Sra. Presidente da Assembleia, vou terminar para depois me poder sentar !

Estas palavras, simultaneamente preocupadas e inspiradoras, devem servir de conforto e de estímulo àqueles que anseiam por um Portugal Novo – VERDADEIRAMENTE HUMANISTA E SOCIALMENTE JUSTO – e a nós Castanheirenses, aqui e agora, por uma Castanheira com Futuro !

Portugal (e Castanheira também é Portugal) está impregnado duma estirpe que em “bicos de pés”, agitam nos bolsos “guizos de imortalidade”, sempre pronta a demonstrar uma pretensa dívida histórica;

Uma estirpe que, com laivos de PROVIDENCIALISMO, se especializou em esvaziar, discretamente, a Ideia de Democracia, confinando-a “ao acto eleitoral”, “apropriando-se” dos seus resultados para, na “Capital do Império”, reivindicar e reservar lugares à mesa do “MONSTRO GLUTÃO” em que se transformou ESTE FALHADO PORTUGAL DE ABRIL !


Inspiremo-nos, pois, nas palavras de mudança do Professor Carvalho Homem e encetemo-la então!

Comecemos pelo nosso jardim,

A CASTANHEIRA –

Convoquem-se todos os Castanheirenses, vivam cá ou não;

Convoquemo-nos a nós próprios;

Faça-se em devido tempo uma abordagem cívica aos partidos políticos, reivindicando-lhes a obrigação de se abrirem à sociedade e o direito de, individualmente ou em grupo, poderem apresentar-se Projectos Políticos estruturados, responsáveis e com rosto, para que desse confronto interno, MAS ABERTO, se possam votar e escolher OS MELHORES de cada área política.

Assim, estaremos, concerteza, a fazer algo de relevante por Castanheira.

Porque tal como disse Henry Ford,

A ÚNICA HISTÓRIA QUE VALE ALGUMA COISA É A HISTÓRIA QUE FAZEMOS NO PRESENTE” !


José Manuel David Tomaz Henriques
29 de Setembro de 2010